quarta-feira, 1 de março de 2017

Luiz Augusto de Mello Pires
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) por onde possui, também, especialização em Direito Penal. É especialista em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de Direito Penal na Escola Superior do Ministério Público e na Escola Superior da Defensoria Pública do Estado.

Há muito e cada vez mais a criminalidade consolida-se como fenômeno social impactante que atinge, indistintamente, a vida dos seres humanos. Várias são as suas causas, e, por isto mesmo, abordá-las seriamente exige intervenção inter e multidisciplinar.
Abordagem indispensável, porém, é a incursão sobre a divisão de atribuições existente entre as polícias militar e civil, modelo que resulta em instituições policiais fracionadas, que não interagem, que não colaboram entre si mesmas, que disputam atribuições, competências, enfim, que almejam alargamento de seus espaços de poder, emprestando maior relevância ao status de que desfrutam do que às razões pelas quais existem.
Oportuno lembrar que as polícias, por origem, são instituições de Estado e não de Governo. Polícias de Governo atrelam-se aos agentes de dominação e poder, estão fortemente armadas e lhes é permitido voltarem-se contra o próprio povo, de quem, aliás, emana ou deveria emanar todo o poder, conforme proclamam as repetidas Cartas Políticas brasileiras. Já as Polícias de Estado assumem feição diametralmente oposta, pois não se submetem às orientações partidárias, não são subservientes à vontade de governantes, aos interesses dos políticos e às ordens vindas de grupos de dominação e poder. A Polícia Federal, por exemplo, é um exemplo de polícia de Estado. No entanto, as Polícias Civil e Militar, um modelo de polícias de Governo que espelha, não sem acalorado debate, a adoção da Teoria da Nova Hegemonia construída pelo filósofo marxista Antonio Gramsci, a qual revela o Estado como“todo o complexo de atividades práticas e teóricas com as quais a classe dirigente justifica e mantém não só seu domínio, mas consegue obter o consentimento ativo dos governados”[1]É a garantia de dominação pela verticalização da coerção social através do poder institucional dos agentes de Estado. E isto é um erro.
É preciso reconstruir as polícias a partir de um novo viés estrutural que, sem unifica-las, como se fossem uma só instituição, redefina suas competências e redistribua suas atribuições, encerrando, assim, este modo nefasto de polícias fracionadas em que uma apenas efetua policiamento ostensivo, enquanto a outra investiga e elabora inquéritos policiais. Os índices de criminalidade e de insegurança pública estão aí, mostrando a falência e a ineficiência do modelo atual, deixando a sociedade ao desabrigo completo.
Os paradigmas deste modelos são muitos. A França possui, como polícias de Estado, a Gendarmeria Nacional (militar) e a Polícia Nacional (militarizada), cujas competências, em tempos de paz, são exatamente iguais. O que distingue os gendarmes, nome que é dado aos componentes das guardas nacionais, é seu caráter polivalente, pois eles podem ser levados a realizar trabalhos de policiamento ostensivo quanto de polícia judiciária, cumprindo, do mesmo modo que a Polícia Nacional, o Ciclo Completo de Polícia em sua área de competência legal[2].
Na Inglaterra instituiu-se o "policiamento baseado no consenso", modelo de policiamento marcado pela eficiência no combate ao crime e pelo respeito aos direitos dos cidadãos, preservado também o Ciclo Completo de Polícia. Na Espanha, em síntese, existem a Guarda Civil (militar) e o Corpo Nacional de Polícia (civil), as quais executam o ciclo completo de polícia. O fato é que nos Países que possuem forças policiais de natureza militar e civil as atribuições e competências são determinadas com fundamento em critérios territoriais ou funcionais.
Não se está a dizer que este modelo deva ser implantado no Brasil, pois se trata de nação de proporção territorial gigantesca e de diversidade cultural incomum, circunstâncias que exigem estudos detalhados e multidisciplinares precedente à escolha e à aplicação do método a ser implantado.
É cada vez mais indispensável caminharmos em direção ao ciclo completo de polícia, inclusive porque o entrelaçamento e a cooperação entre estas instituições, sempre com vistas à segurança pública e ao combate à criminalidade, compõem o atual modelo constitucional de federalismo cooperativo vigente desde a Carta Maior de 1934, a qual encerrou o modelo dualista da Constituição Republicana de 1891, que impunha competências estanques e rígida separação entre os variados Órgãos de Polícia.
O modelo moderno e eficaz de polícias exige concessão de autonomia e independência às policias brasileiras. Basta de instituições de Estado que, transformadas em instrumentos de governo, servem apenas aos interesses de poder, políticos ou sociais, das classes dominantes, ou, ainda, das próprias corporações, contra o tecido social.
A Polícia Civil e a Polícia Militar são Forças de Estado, nunca de Governos. E assim, independentes e com autonomia, regidas por princípios legais, éticos e morais impostergáveis, devem se comportar. Somente assim a sociedade poderá e deverá cobrar das polícias a tão almejada redução da criminalidade com reflexo direto na sensação de que vivemos segurança pública real.    

http://www.ciclocompleto.com.br/pagina/1552/poliacutecias-de-ciclo-completo-modelo-eficaz-de-combate-agrave-criminalidade-e-de-restauraccedilatildeo-da-seguranccedila-puacuteblica-

FENEME


[1]
 GRAMSCI, Antonio – Maquiavel, a Política e o Estado Moderno, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1991, 8ª edição, p. 87.
[2] http://www.esg.br/images/Monografias/2012/BATISTA.pdf

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

POLÍCIA MILITAR – DO BRASIL COLÔNIA ATÉ A CARTA POLÍTICA VIGENTE.
A evolução histórica das polícias militares revela que essa notável Instituição não se amolda à vilania que muitos lhes atribuem. Proclama-se que as polícias militares constituem “uma invenção, uma criação da ditadura” , que percepcionam a sociedade como inimigo, como massa a ser controlada . O equívoco, porém, é evidente. Como esclarecem Azkoul e Muniz , as polícias militares remontam ao ano de 1809, quando houve a formação da Divisão da Guarda Real de Polícia do Rio de Janeiro. Contudo, o núcleo fundante das instituições militares nos remete ao alvorecer do século XIX, à época do Brasil como colônia portuguesa. No ano de 1801 nossos então colonizadores fundaram em seu território a primeira força policial militarizada, batizada como Guarda Real de Polícia de Lisboa. Esta força formou-se à imagem e semelhança da Gendarmaria Nacional da França, instituída no ano de 1791 com base nos ideais da Revolução Francesa e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A Guarda Real de Polícia, assim, tomou para si a defesa dos países, mas, em especial, a segurança dos povos, direito natural a ser assegurado a todos os cidadãos. Com estes ideais, a família real criou no Brasil-colônia a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia do Rio de Janeiro, em 1809. Posteriormente, formaram-se Divisões idênticas em Minas Gerais, no Pará, no Maranhão, na Bahia e em Pernambuco, todas formadas a partir de concepções militares. Já no ano de 1831 tais Divisões foram substituídas por Corpos de Guardas Municipais Voluntários, depois por Guardas Municipais (1834) e, finalmente, por Corpos Policiais, cuja formação e estrutura são as que guardam significativas semelhanças com as polícias militares atuais. Destes Corpos Policiais exsurgiram grupos hoje conhecidos como Voluntários da Pátria que, unindo forças ao então ínfimo efetivo do Exército Nacional, deram grande e valiosa contribuição para que o Brasil-império fosse exitoso na guerra contra o Paraguai, em 1864. No entanto, os Voluntários da Pátria jamais viram cumpridas as promessas que lhe foram feitas pelo governo imperial - , para além de serem remetidos à guerra desprovidos de armamento suficiente e com armas e munições em desuso. Havia Corpos de Voluntários em que a grande maioria armava-se apenas com espadas de aço e pistolas de percussão monotiro . Os Voluntários da Pátria, policiais militares oriundos dos Corpos Policiais das Províncias, não mediram forças e nem pouparam vidas em defesa da Pátria ameaçada e da segurança social então perturbada. Esta intensa vinculação até hoje existente entre o Exército Nacional e os Corpos Policiais das Províncias constitui o DNA dos princípios da hierarquia, da disciplina, da moralidade, da ética, da honra, do valor policial e do pundonor militares. Como se constata, as polícias militares possuem mais de duzentos anos de histórias de honra e heroísmo, decisivas à sociedade e ao nosso País, sendo inegável que se trata de Entidade absolutamente integrada ao atual modelo democrático e atenta às mudanças culturais das sociedades. Logo, ainda que muitos de seus integrantes cometam injustificáveis excessos, estes comportamentos são incapazes de obscurecer a importância das polícias militares desde os primórdios do século XIX. A instituição polícia militar, formada por meio milhão de servidores, por sua história está acima dos erros cometidos. Apesar das condições de trabalho, de armamento e de salários, que em muito os assemelha aos Voluntários da Pátria, as polícias militares constituem o pilar central que sustenta a segurança, a lei e a ordem social e institucional brasileiras, nos termos da nossa Carta Magna. Sem dúvida, com esse núcleo fundante e com essa história, antes de ser extinta ou mesmo desmilitarizada, as polícias militares, como de resto todas as Instituições Públicas, devem ser objeto de reajustes e acertos. A prevalecer a crítica infundada e a solução apregoada pelos críticos, então terá vencido a criminologia midiática que adestra o povo, que o alimenta com discursos de impunidade e violência, amplificando a voz dos críticos que subjugam a lógica, a coerência, a razoabilidade, enfim, a história de honra, valor e heroísmo das polícias militares. Se assim for, provavelmente retomaremos a condição de sociedade colonizada, agora não mais pelo império, mas, sim, por interesses inconfessáveis muito mais nefastos dos que animaram o tirano paraguaio Solano Lopez. Então, sem Guardas Reais, sem Corpos de Guardas Municipais, sem Corpos Policiais das Províncias, sem os Voluntários da Pátria, enfim, sem as polícias militares, restará esperar que Robespierre, Danton e Marat renasçam e sejam capazes de renovar os ideais da revolução que desencadearam, recolocando instituições honradas, como as polícias militares, em patamares respeitáveis, como sempre foi e deve mesmo ser. 


Dr. Luiz Augusto de Mello Pires

ARTIGO PUBLICADO NO DIA 08/02/2017

Referências:
 Jair Krischke (Disponível em https://www.brasildefato.com.br/node/28962/)
  Professora Antonia Terra, docente da USP (Disponível em http://lemad.fflch.usp.br/node/7909
  AZKOUL, Marco Antônio. A Polícia e sua Função Constitucional. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998.
MUNIZ, Jacqueline. A Crise de Identidade das Polícias Militares Brasileiras: Dilemas e Paradoxos da Formação Educacional. Security and Defense Studies Review. Vol. 1. Winter 2001. Págs. 177/197.
  RODRIGUES, Marcelo Santos. Guerra do Paraguai: Os Caminhos da Memória entre a Comemoração e o Esquecimento. USP, São Paulo, 2009.
  Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai; do General Paulo de Queiroz Duarte; Bibliex; 1983.

Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai; do General Paulo de Queiroz Duarte; Bibliex; 1983.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

CONVERSÃO DE LICENÇA PRÊMIO NÃO GOZADA EM INDENIZAÇÃO

A indenização dos períodos de licença-prêmio adquiridos e não usufruídos tem sido concedida pelo Poder Judiciário após a Administração Pública ser acionada judicialmente, já que por meio de processo administrativo em muitos casos os servidores estaduais e federais não tem esse direito garantido.

Assim, os servidores públicos que por algum motivo romperam o vínculo de trabalho com a Administração Pública, como é o caso da aposentadoria, demissão ou que tenham pedido exoneração para exercer outro cargo público por exemplo, terão direito à receber indenização relativa à licença prêmio ou licença especial, desde que o período aquisitivo tenha se completado (normalmente a cada cinco anos existe a previsão de receber três meses de licença remunerada).

Em que pese não haja previsão legal que autorize a Administração Pública a indenizar o servidor que não usufruiu licença-prêmio, o Superior Tribunal de Justiça já pacificou entendimento no sentido de que cabível indenização no caso de servidor que se aposenta e não usufrui licença-prêmio.

Você servidor poderá buscar com nosso escritório este serviço.

Convém lembrar, que o pagamento em dinheiro correspondente aos dias de licença premio não usufruídos, tem natureza jurídica de INDENIZAÇÃO, motivo pelo qual não poderá incidir IMPOSTO DE RENDA quando do levantamento das respectivas importâncias, a teor da sumula 136 do Superior Tribunal de Justiça.


EM ALGUNS CASOS É POSSÍVEL RECEBER, SEM NECESSIDADE DE PRECATÓRIO.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Indenização por danos morais e materiais em razão do não pagamento do salário de forma integral/parcelamento do salário.

O atraso no recebimento de salário ou ainda o fracionamento pode ensejar o direito à indenização por danos morais e materiais.
Em tese, há possibilidade do pedido, pois é inegável que os servidores experimentaram dano, ou pelo menos, deixaram de usufruir aquilo que lhes é de direito, pela inadimplência do Estado do Rio Grande do Sul, fato esse, público e notório. Assim, é juridicamente possível o pedido de danos.

Entendemos que existe um abuso de poder pelo ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL em razão da omissão no dever jurídico de pagar os salários dos servidores em dia e não fracioná-lo como está sendo feito.

O que se espera da Administração Pública é que, em nome do Estado Democrático de Direito, sob o qual é constituída a República Federativa do Brasil, submeta-se aos princípios da legalidade, moralidade e da eficiência, veiculados pelo artigo 37, da Constituição Federal. Em não o fazendo, deve sujeitar-se o Poder Público a indenizar os servidores prejudicados, pois não trata-se de um mero dissabor.

O parcelamento dos salários dos servidores afronta diretamente o princípio da dignidade da pessoa humana, a garantia fundamental do direito à vida, e o direito essencial à saúde, são prioritários na interpretação e aplicação da lei. Cumpre salientar que o direito básico de alimentação, incluído pela Emenda Constitucional 064/2010, dado seu caráter fundamental. Este é o caminho para preservar as bases sob as quais se consolida o Brasil, e conseqüentemente proteger os cidadãos que neste país habitam.

Você servidor prejudicado com estas atitudes do Governo do Rio Grande do Sul, com financiamento de imóvel, veículos, tratamento de saúde, escola e ainda ingresso junto ao SPC/SERASA poderá ingressar com demanda indenizatória.

A AJUCIM com estrutura adequada de apoio, tanto física como pessoal, com advogados que conhecem o seu mister está a disposição para lhe atender e ingressar com demanda necessária. (51-32265838-32126885)

Dr. Paulo Roberto Cardoso Rodrigues

Advogado